Como descreves uma cena típica de um filme pornográfico? Uma mulher loira, silicone, guarda-roupa minúsculo… pronta a “agradecer” o canalizador que lhe arranjou os canos. Esta imagem machista de que a mulher só serve para satisfazer o homem já está fora de validade e é tempo de mudar.
Tivemos oportunidade de entrevistar uma galardoada realizadora feminista, natural da Suécia que está a revolucionar a indústria pornográfica, ela é Erika Lust.
Antes de tirar o curso de realização de cinema em Barcelona, Erika formou-se na Universidade de Lund em ciências-políticas, feminismo e sexualidade. “Na altura senti dificuldade em fazer passar a minha mensagem sobre a sexualidade feminina e os seus desejos por isso decidi mudar-me para Barcelona e estudar realização. No final do curso decidi que estava na hora de realizar uma curta-metragem, uma curta-metragem para adultos, diferente e independente.” conta Erika.
Foi assim que nasceu a sua primeira curta-metragem The Good Girl. Tornou-se um sucesso online alcançando mais de 2 milhões de visualizações e ganhou o primeiro prémio no Erotic Film Festival em Barcelona. “O sucesso de The Good Girl deu-me vontade de voltar ao set e fazer mais filmes, e foi aí que decidi criar Lust Films e em 2005 realizei Five Stories for Her.” Com este sucesso Erika foi atraindo a atenção da imprensa o que a permitiu conhecer outros realizadores com os mesmos interesses. Sucederam-se outras obras como Barcelona Sex Project (2008), Life, Love, Lust (2010) e Cabaret Desire (2011). “Também escrevi Good Porn: A woman’s guide (2008) and Let’s Make a Porno: A Practical Guide to Filming Sex (2013).” acrescenta. (O download de ambos os livros é gratuito e podes fazê-lo na loja oficial da Erika Lust.)
O seu projecto mais recente chama-se XConfessions, um portal online onde vários utilizadores anónimos publicam as suas fantasias sexuais e a cada mês uma história é transformada numa curta metragem. “Acho que o sucesso desta plataforma advém do facto de ser algo único. Os fãs adoram ver as suas fantasias tornadas realidade.” frisa.
Mas o que diferencia o cinema de Erika dos restantes no mercado? “Eu penso que sendo autora e realizadora ao mesmo tempo faz com que os meus filmes sejam diferentes. Para melhorar os filmes pornográficos é necessário melhorar a sua qualidade e valores. Por um lado os filmes para adultos necessitam de uma melhor produção, argumentos mais trabalhados e uma qualidade imagem superior. Por outro o cinema porno precisa mesmo de mudar, precisamos de um cinema que mostre os nossos verdadeiros prazeres e desejos.” explica. Apesar de ser uma realizadora feminista, os filmes de Erika não são para serem vistos só por mulheres, muito pelo contrário, “penso que pelo facto dos meus filmes serem criados por mulheres o produto final é completamente diferente e daí atrair qualquer género.”
Os filmes da Lust Films não são só diferentes por serem feministas mas como também a qualidade de produção que é aplicada em cada curta-metragem é totalmente anormal para um filme pornográfico, “eu tenho um departamento que trabalha todos os dias no XConfessions, eles moderam as confissões enviadas pelos nossos fãs e seguidores e juntos escolhemos as mais interessantes para publicação. Depois, a cada 3 ou 4 meses, vamos filmar as 10 confissões que preferimos. A selecção é só o início das longas semanas de trabalho árduo que nos esperam, desde o desenvolvimento do argumento, repérage (escolha dos locais), casting, e finalmente a rodagem. Um processo único neste mercado. Na verdade, o nosso método de trabalho assemelha-se mais à produção de um filme indie do que a de um filme porno. Mas foram precisos 10 anos de trabalho para conseguir chegar a este patamar!” explica. Talvez é este o factor que faz com que olhemos com outros olhos para o cinema porno da Erika, um cinema que realmente pode ser interpretado como arte.
A Erika partilhou connosco um momento caricato que aconteceu na rodagem do 4º volume do XConfessions, “eu estava obcecada por filmar uma cena de um casal que fazia apaixonadamente amor dentro de um carro, num dia de temporal. A minha equipa de produção disse logo: ‘OK Erika, sabes que não controlamos o tempo e que os mecanismos para criar chuva são extremamente caros, e vamos precisar de imensa água para criar um temporal durante todo o tempo da cena, e claro está que a câmara não pode molhar-se e… TENS A CERTEZA QUE QUERES FILMAR ISSO!?’ Estiveram semanas a trabalhar num sistema manual para criar chuva. O que é certo é que não sabíamos se iria funcionar e ainda por cima a imprensa estava no set nesse dia. Estávamos todos tensos mas disfarçamos bem o nervosismo. Após vários testes que molharam a equipa toda, alguns tripés enterrados na lama e com a lona estratégicamente perfurada… Não sei como, mas miraculosamente correu tudo bem. É claro que posteriormente sofremos todos uma descarga de adrenalina!” continua, “Estar numa rodagem, é por si um grande privilégio. É uma das profissões mais emocionantes de sempre. Pode ser muito stressante e não é para todos, mas quando se gosta, é por amor à camisola. Pessoalmente, considero-me uma cineaste acima de tudo. Hoje em dia tenho uma grande equipa e existe um grande espirito de fraternidade entre nós todos.”
Ao analisar a evolução dos volumes 1, 2 e 3 do XConfessions é notável que com o passar do tempo as produções das curtas-metragens são cada vez mais ambiciosas, tecnicamente mais complexas e exigentes, “acabo por ficar exausta no fim de cada rodagem, mas muito feliz com os resultados” conclui Erika.
Teaser do 4º Volume ‘XConfessions’
É com enorme satisfação que anunciamos que a Erika aceitou oferecer a um dos nossos leitores um pequeno presente: “O grande vencedor do vosso passatempo irá receber um acesso anual à plataforma XConfessions, dando acesso a mais de 50 curtas e a cada mês dois novos filmes são adicionados.” explica Erika. Tentador? Não percas amanhã todos os detalhes do passatempo!
Fotos: Rocio Lunaire