Sonho com o dia em que a minha caligrafia possa ser um acessório de moda. Personalizado q.b., há de dizer de mim o mesmo que os meus jeans ou o meu fato Armani. Que tenho estilo. Que tenho mega bites de miúdas. Que tenho bom gosto. Que vou longe e, em pouco tempo, serei um homem de sucesso. Mas, se calhar, o que eu quero é, num dia, ser médico, no outro, bombeiro, depois, lenhador, ator de Hollywood, jogador de futebol ou surfista. Não importa, que a minha caligrafia há de imaginar-me como eu quiser. No futuro serei assim: um homem de caligrafia às direitas. Nada de letra de imprensa. Nada de estilos gráficos. Nada de design extravagante.
Li há dias que a Dinamarca é um país de vanguardas. Já toda a gente sabia, mas há sempre os distraídos. O que lá se passa, vai o resto do mundo copiar 10 anos depois. Que gajos tão espertos, estes cavaleiros da Dinamarca, que já não de deslumbram com o Novo Mundo. Mais espertos somos nós, que já nos aguçamos só na expectativa de vir a imitá-los não tarda nada…
As escolas da Dinamarca vão deixar de ensinar caligrafia. Para quê que os putos precisam disso!? Pois…, realmente não precisam disso para nada. Só têm de teclar e a tendência é já nem existirem livros, nem manuais, nem cadernos. Só tablets, só ebooks, essas coisas que deixam os velhos sábios em palpos de aranha com a sua iliteracia digital… Para quê aprender caligrafia que ninguém usará?
Mas, afinal, nem era novidade! Fiquei a saber que já há escolas dessas por cá. Há milhares de miúdos que não sabem caligrafar, mas é mesmo assim. É a tecnologia, é o futuro já no presente. Pois para quê, ó Francisco José Viegas, estares todo ufano porque vai deixar de haver a caligrafia mais infame de que há registo, a letra de médico?!
Já não há letra de médico, mas isso é por outras razões. Económicas, pois. As receitas são passadas a computador. Muitos médicos passam-nas letra a letra, uma matraca em cada letra no teclado, uma de cada vez. Assim mesmo, que eu já vi. E lá sai a receita se o Serviço Nacional de Saúde ainda tiver dado dinheiro para o papel da receita a imprimir.
Então, eu pus-me a sonhar com o dia em que a caligrafia será uma moda retro, uma coisa vintage para homens de barba rija e eu possa comprar uma caneta e pô-la na lapela do meu Armani, ou na orelha, à pedreiro de antigamente. E vai daí, se me apetecer, tiro uma caligrafada, só para as miúdas verem como é um homem que sabe caligrafar.
Um homem de antigamente.
Não, um homem do futuro!
Foto: Jeff Sheldon