Todos, sem excepção, suponho eu, nos lembramos do jogo das cadeiras de quando éramos miúdos. Para os mais esquecidos o jogo consta, ainda é praticado em algumas escolas actualmente, num rodopio frenético à volta de uma série de cadeiras em número insuficiente relativamente ao número de participantes. O fulcro do jogo é que os mais rápidos e audazes consigam suplantar os menos lestos e mais distraídos. Teoricamente, essa pretensão é totalmente válida. Na sua praticidade real, tenho bastantes dúvidas.
A mácula deste jogo, aparentemente inocente, reside nas óbvias analogias políticas, futebolísticas e, porque não, no nosso diário mercado laboral. É fácil observarmos este jogo no nosso dia-a-dia: entre a assistente administrativa que, subitamente, deixa de ser administrativa mas membro da administração, ou do Zé das compras que, velozmente, chega a director financeiro. Nesses processos, uma gigantesca quantidade de bactérias transitam de corpo em corpo e entre cadeiras executivas, ou semi-executivas, para que alguém as venha absorver e levar para casa diariamente para junto da sua família, é a chamada bactéria empresarial/industrial.
Na política e no futebol, principalmente nestas duas “áreas”, os números variam um bocadinho, para cima, relativamente aos nossos empregos, porém, aí temos outros factores a ter em conta, aqui envolver-se-á também algumas figuras do show-biz da tv. Por exemplo, é deveras claro que se uma certa apresentadora televisiva tivesse ido aos castings ou feito todas as suas primeiras incursões no mediatismo de calças ou saias abaixo do joelho, eventualmente, não seria das mais bem pagas no nosso país e aí a sua cadeira não seria a de horário nobre, pelo menos para a terceira idade o é, mas talvez uma velha cadeira algures pelo canal 547 do cabo. Ou quiçá se um determinado responsável político, da regulação bancária, não tivesse sofrido de cegueira temporária não estaríamos nós a pagar a dívida de um banco que implodiu e o mesmo não teria, certamente, dançado para uma cadeira maior lá para Bruxelas. Estes 2 casos são claros exemplos de indivíduos rápidos e audazes no jogo das cadeiras.
Agora, vamos ensinar às nossas criancinhas a inocente versão do jogo, puramente honesta e lúdica, ou a versão lesta e audaz e com menos, ou nenhumas, regras?.. Basicamente é a diferença entre jogar pelas regras e, muito possivelmente, ficar na mesma cadeira uma eternidade ou então optar pelo “esquecimento” de algumas regras e num ápice passar da desconfortável cadeira de madeira com pregos a sobressair para a fofinha e de costas altas poltrona de cabedal…