Olhos Grandes

Uma produção assinada por Tim Burton gera sempre as maiores expectativas. Olhos Grandes não é exceção. Baseada na biografia da artista americana Margaret Keane (Amy Adams), que até de Andy Warhol recebeu elogios, o filme segue o percurso estranho de uma mulher que aceita delegar no marido, Walter Keane (Christoph Waltz), a tarefa de promover a venda dos seus quadros. Nestes o que mais sobressaem são os grandes olhos, negros e tristes, das figuras que pinta.

Walter, que se assume como um pintor sem inspiração, mas que na verdade é um brilhante vendedor imobiliário, consegue não só pôr toda a gente a correr atrás de reproduções dos quadros de Margaret, como assume mesmo a sua autoria com o maior dos despudores, inclusive frente às câmaras de televisão. E aqui nasce, com a estranha cumplicidade da mulher, uma troca de identidade que, após várias peripécias, atingirá o seu clímax na conversão religiosa de Margaret e num tribunal, no Havai, onde se decide quem é o verdadeiro autor dos quadros da série Big Eyes.

O que sabe a pouco é a excessiva planura da personagem de Margaret. Sem grande profundidade psicológica, nunca se percebe bem o que a leva a submeter-se ao marido e, depois, mais tarde, a rebelar-se. Uma cena de descontrolo de Walter, que tenta pegar fogo à sua própria casa, espoleta a decisão de Margaret em pedir o divórcio e fugir para o Havai. Mas é, de facto, pouco. E, assim, quase sem darmos por isso, deslizamos entre a curiosidade de saber como resolverá Margaret o seu drama familiar e o fascínio pela performance de Walter, que atinge a genialidadeenquanto vendedor. Assim, os louros da interpretação acabam por ir parar todos, ou quase, à interpretação de Christoph Waltz e ao seu brilhante Walter Keane. O que é pena, pois o filme merecia que não tivéssemos tirado os olhos de Margaret e das suas estranhas pinturas, a rondar o kitsh, numa América dos anos 1950s muito gráfica e divertida.

Finalmente, a expectativa maior: a linguagem visual. Embora muito distante da iconografia macabra habitual, este Tim Burton mostra-nos uma tentativa de idade adulta, ainda não inteiramente conseguida, malgrado os cenários mais gráficos e menos oníricos do que o costume. De qualquer modo, BIG EYES é um filme a ver.

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