Os modernos tempos possibilitaram às novas gerações oportunidades infindáveis a todos os níveis, particularmente na educação, como o acesso a novas tecnologias e a novas práticas pedagógicas realmente avant-garde e, fundamentalmente, ao privilégio de usufruir da sabedoria, preparação académica e know-how de uma nova geração de professores devidamente apta para as guiar na complexa e, demasiadas vezes, surreal aventura do ensino.
Alguns, poucos, mas em número suficiente para serem demasiado mediáticos, insistem em “borrar a pintura” ao minimizar e ridicularizar o papel do professor na sociedade civil. Esses, os ditos alguns, não são só aquela franja de alunos proscritos, são pais, ministros, secretários de estado, altos responsáveis da tutela, associações e sindicatos com fins suspeitos, outros professores… como em qualquer classe trabalhadora, o maior perigo à sua sobrevivência está no seu próprio seio.
Observo toda a realidade educativa e os seus maiores protagonistas e heróis, os notáveis professores, ao menos assim deveriam ser tratados, como que uma analogia a um clássico filme dos finais dos anos 80, “Road House”, em português intitulado “Profissão Duro”, onde o malogrado Patrick Swayze procura limpar toda a porcaria que encontra num estabelecimento para o qual é contratado. Para tal desiderato, vai selecionando quem deve afastar do enunciado estabelecimento, sem se livrar, claro, de umas boas cargas de porrada. Infelizmente, qualquer professor hoje em dia está também sujeito a umas boas cargas de porrada. Se não for dos pais, é dos próprios alunos, se não for destes, virá qualquer tutoria governativa ou dirigente arrasar com o seu bem-estar psicológico, provocando rupturas insanáveis no seu/nosso necessário equilíbrio.
Ora, para aturar tudo isto, ou seja, de ser professor actualmente, é preciso muita fibra e também uma grande dose de loucura, é um pouco como ser guarda-redes de um clube de fim de tabela, é o massacre constante. Longe estão os tempos em que um professor, hoje chamam-nos de docentes, poderia exercer praticando pela diferença e com gosto e, essencialmente, onde os alunos os ouviam com prazer, ávidos do saber daquela figura, justamente, considerada um pilar essencial da comunidade.
Hoje é vê-los em aulas de defesa pessoal, é vê-los com receio, justificado, de alguns elementos da comunidade educativa, é vê-los não com medo de dar umas palmadas, mas sim de levá-las, é vê-los a fazer dezenas, centenas de quilómetros para exercer a sua profissão por um mísero salário, é vê-los desempregados, é vê-los serem tratados como excedentários sociais.
E o mais preocupante é vê-los a terem de ser uns Duros como o Patrick Swayze, sempre alerta para qualquer eventualidade, sempre prontos para evitar uma carga de porrada, quando deveriam ser, o que seria o lógico da questão, uns irreverentes Mr. Keating do “Clube dos Poetas Mortos”, uma bússola para os nossos rapazes e raparigas, mas não, obrigam-nos quase a ser uns Rambos, uns Bruce Lee, esses sim, aparentemente, os novos pilares do pós-moderno paradigma educacional e social.
Caro João,
Concordo absolutamente: há um jogo a decorrer hoje, mas poucos sabem jogá-lo.
Vivemos os dias d’”os que não sabem ser”.
Os nossos alunos não sabem o que querem ser, os sucessivos ministros da educação não sabem o que é ser “ministro”, há professores que não sabem muito bem o que se deve ser e muitos pais que também não o sabem ser. E acho que o problema está exatamente no verbo. O problema é o “ser”. É que todos nós, antes dos vários papéis sociais que desempenhamos, já somos. Todos somos indivíduos. Mas todos podemos fazer algo mais. Se trocarmos o ser pelo fazer, creio que o problema mudará. Perguntem-se então: o que querem fazer mais? O que pretendem fazer melhor? E surpreendam-se com as respostas que todos temos cá dentro.
Obrigado pelo artigo João.
Atentamente,
Hugo Mariano
Caro Hugo, boa noite.
Antes de mais, obrigado pelas suas palavras. Concordo plenamente com o que diz/refere, direi que a sua resposta é um belo artigo também…
O problema, de facto, está no ser e no como fazer, diria mais, estará no saber-fazer e de como a teoria correctamente aplicada se pode materializar no próprio Saber. O problema é que o universo educativo, tal como outra realidades lustianas, digo eu que não sou qualquer autoridade na matéria, está pejado de que quem não sabe fazer porque, simplesmente, nunca o fez, e se o fez foi em termos unicamente teóricos, falta-lhes a prática para poder transmitir esses conhecimentos, o tal know-how, essa simbiose do saber e do ensinar a fazer.
Obrigado.
Um abraço