E pronto! Todos os anos é a mesma coisa. A azáfama de preparar a despedida de um ano que termina e receber de braços abertos e com uma grande dose de esperança o ano novo. No meio de alguns preparativos há sempre tempo para parar um pouco, fazer o balanço dos últimos trezentos e tais dias e formular desejos para os novos trezentos e muitos que se avizinham.
A Clever andou por aí, mais ou menos no meio da multidão, a tentar perceber o que é que o homem dos nossos dias ambiciona para 2015. Todas, ou quase todas as faixas etárias foram sondadas e as respostas mais surpreendentes (ou talvez não) surgiram por parte dos homens com mais traquejo de vida, digamos assim.
Aos 75 anos, Luís P. não tem dúvidas do que pretende que o novo ano lhe traga. “A grande ambição para 2015 é continuar a ter saúde e a viver em paz comigo e com os outros”. Se a saúde, em parte, já não depende unicamente de si, já a questão da paz requer da sua parte algum esforço. E é isso mesmo que Luís P. diz fazer todos os dias. “Procuro uma certa serenidade com as pessoas com quem me relaciono”, afirma.
Na mesma faixa etária, Eduardo Martinho, que conta com 78 anos, sabe bem aquilo que pretende que 2015 lhe traga. Começa por dizer que na sua idade “já não se têm grandes motivações”. Em todo o caso, há sempre ambições que falam mais alto, independentemente da idade. “Anima-me a esperança de que os meus netos continuem a crescer bem e que tenham bons resultados escolares”.
Trabalho, carreira e amor
Nas faixas etárias dos 20 e 30 anos, não é difícil perceber quais os desejos da malta mais nova para o novo ano. A questão do trabalho é a mais comentada por todos os jovens com quem a Clever falou. É o caso de Rui Manuel, 22 anos, a terminar uma licenciatura e a perceber que 2015 talvez não seja o seu futuro em Portugal. A questão também é mencionada por Pedro C. que luta a custo por uma colocação efetiva na sua área de formação, que é a comunicação social. Sente receio quanto ao futuro e teme que o ano novo não lhe consiga trazer estabilidade financeira para poder construir uma família.
Tirando estas questões, de resto a malta mais nova ambiciona que a viragem de ano possa trazer alguns trocos. Pelo menos mais do que tiveram no ano de 2014 e para quem ainda não pensa em família, logo a seguir à questão profissional está o lazer: “Amigos, copos e gaijas… mas giras”, diz Rui Manuel. A Clever atreve-se a concordar!
Vamos até à faixa dos 60 anos, altura em que muitos começam a ambicionar com a reforma, e eis que nesta idade há quem ainda espere tudo da vida. Mas tudo mesmo. É o caso de Manuel Rotiv (nome fictício) . “Para mim, o ano ideal seria de desbunda total, com muito sexo, amor e viagens por todo o mundo”. No caso disto não se concretizar, este homem de 64 anos, reformado, já só pede “mais saúde e algum dinheiro para viajar”.
Numa faixa etária mais abaixo, nos cinquentas, as preocupações são sobretudo com as questões financeiras e a estabilidade para manter a família. É o caso de Santos Silva que vai tentar, neste novo ano “ultrapassar a enorme crise financeira em que os políticos me colocaram (injustamente) e disponibilizar à minha filha as melhores ferramentas de ensino para que possa futuramente emigrar”.
Mais abaixo, nos quarentas, também Miguel Pereira, 45 anos, desempregado, sente-se revoltado com a atual situação em que se encontra a sua vida. Diz não desistir, não baixar os braços, mas pouco acredita num 2015 próspero em Portugal.
De 2014 para 2015
Do ano que agora se despede para o que está a chegar há coisas na vida de cada um destes homens que é para manter, custe o que custar, pois são as coisas mais importantes na vida de cada um. Luís P. quer levar para 2015 algumas das vivências de 2014, principalmente aquelas que têm a ver com os afetos. “A alegria do reencontro, que foi o que vivi o ano passado em que reencontrei pessoas que não via há décadas, que foram meus colegas de escola”.
Já Eduardo Martinho quer levar para o novo ano “um projeto de escrita de artigos de divulgação cientifica que estão a ser publicados semanalmente num jornal regional online”. O que até se compreende, dado que a área cientifica foi a sua vida profissional. Já sobre o que não quer levar para 2015, Eduardo Martinho não tem qualquer dúvida. “A corrupção em geral e a corrupção financeira e bancária em particular”.
Santos Silva não tem dúvida sobre o que quer levar do ano velho para o novo. Trata-se de mais uma tentativa, desta vez a de melhorar o seu “organismo e condição física, destruídas pelos médicos em 2001”.
A unanimidade surge quando questionados sobre o que querem sempre levar de ano para ano. A família surge no topo das respostas dos que já constituíram a sua. Tal como diz Manuel Rotiv, “a felicidade de ter uma família”. Eduardo Martinho aposta sobretudo numa questão de âmbito profissional num projeto que o acompanha há mais de uma década. “Entre 2000 e 2004, participei na realização de um trabalho científico que constituiu uma inovação na Física de Neutrões. Espero que as citações que esse trabalho tem tido anualmente continuem em 2015”.
Nas faixas etárias mais baixas, são os amigos, as namoradas, os amores e a alegria de olhar a vida com a simplicidade que nem sempre tem.
O ano ideal
Quase todos têm o seu ideal de um ano perfeito. É certo que as opiniões dividem-se consoante faixa etária, estatuto social e situação familiar e financeira. Contudo, há quem aos 75 anos acredite na vida com a mesma intensidade de um jovem de 20. É o caso de Luís P. cujo ano ideal seria viver “uma paixão de caixão à cova, paz, amor e saúde”.
Santos Silva, na casa dos 50 anos, não vai tão longe e o seu ano ideal seria com tempo para “descanso, desporto, ajudar os mais necessitados – cada vez mais abandonados por este sistema neoliberal capitalista – e sentir-me feliz”.
Para Eduardo Martinho, o ano ideal seria “sem guerra, sem epidemias, sem fome, enfim… sem tudo aquilo que causa sofrimento aos seres humanos”.
E como não poderia deixar de ser, aos 20 anos, o ano ideal de Rui Manuel seria “cheio de gaijas… mas giras!”, frisa. E, mais uma vez, a Clever atreve-se a concordar!